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Plantas com Alcalóides Beladonados

Descrição e Mecanismo de ação

Plantas com alcalóides beladonados ou tropânicos constituem um grupo de vegetais que apresentam em comum o fato de possuírem princípios ativos (hioscina ou escopolamina, hiosciamina e atropina) com propriedades anticolinérgicas. Estes alcaloides antagonizam os receptores muscarínicos centrais e periféricos da acetilcolina, provocando uma síndrome atropínica ou anticolinérgica.

A maioria pertence à família das Solanaceae.

Toxicidade

Em virtude da grande variedade de espécies, tipo de solo, época do ano e partes do vegetal envolvidas, torna-se difícil estabelecer uma dose tóxica precisa.

Em geral há necessidade de ingestão intencional do vegetal ou do chá produzido com o vegetal para desenvolver sintomas significativos.

Toxicidade significativa após ingestão acidental é pouco frequente.

Esta classe de plantas é ocasionalmente utilizada como abuso por seus efeitos alucinógenos.

Manifestações Clínicas

A intoxicação aguda por plantas ricas em alcalóides beladonados causam sintomas atropínicos ou anticolinergicos que se iniciam logo após a ingestão.

Os anticolinérgicos bloqueiam o neurotransmissor acetilcolina nos receptores muscarínicos, causando toxicidade no sistema nervoso periférico e/ou central.

Os efeitos anticolinérgicos periféricos incluem: rubor facial, pupilas dilatadas, visão turva, boca e língua secas, pele quente e seca, febre, diminuição da motilidade gástrica e retenção urinária. Também pode haver bradicardia transitória seguida de taquicardia sinusal, hipertensão, náuseas, vômitos e taquipneia.

Os efeitos anticolinérgicos centrais incluem: ataxia, delírio, agitação, agressão, alucinações visuais e auditivas, distúrbios da fala, convulsões, mioclonia, hipertonia e hiperpirexia. Em casos graves, a excitação do SNC pode dar lugar à depressão do SNC, insuficiência circulatória e respiratória e coma.

Pode ocorrer também anomalias de condução cardíaca e arritmias, íleo paralítico, hiperglicemia, erupção cutânea e glaucoma. Funções hepáticas e renais anormais e rabdomiólise também foram relatadas.

Em alguns casos a recuperação clínica completa, mesmo na ausência de complicações, pode levar de muitas horas a dias.

Tratamento

  • O tratamento por plantas com alcalóides beladonados é basicamente sintomático e suportivo.
  • Desobstruir vias aéreas superiores e administrar oxigênio suplementar se necessário.
  • Monitorar sinais vitais.
  • Monitorização cardíaca contínua em pacientes com intoxicação moderada a grave.
  • Hidratação adequada.
  • A hipertermia deve ser tratada com medidas físicas como banhos frios e compressas geladas.
  • A agitação psicomotora pode ser tratada com benzodiazepínicos de ação curta, pois posteriormente as substâncias podem causar também depressão do SNC e insuficiência respiratória.
  • Exames laboratoriais: Em pacientes sintomáticos, solicitar hemograma completo, função renal, função hepática, CK e glicemia.
  • A fisostigmina seria um antídoto, mas não se justifica seu uso na rotina pelos efeitos colaterais. O risco é maior do que o benefício.
  • O benefício da descontaminação gástrica é incerto. Considerar uso do carvão ativado (dose de carvão: 50 g para adultos; 1 g/kg para crianças) se o paciente se apresentar dentro de 1 hora após a ingestão de grandes quantidades, desde que seja seguro fazê-lo e as vias aéreas estejam protegidas. A eficácia diminui rapidamente com o tempo desde a ingestão, mas pode haver algum benefício potencial no uso posterior, especialmente após grandes ingestões.
  • Todos os pacientes devem ser observados por pelo menos 6 horas após a ingestão. Pacientes sintomáticos devem ser observados até que os sintomas desapareçam.
  • Sempre que possível, verificar a monografia específica da planta intoxicante nas bases de dados auxiliares.

Em`` ``casos`` ``com`` ``sintomas`` ``moderados`` ``e`` ``graves,`` ``verificar`` ``demais`` ``sintomas`` ``e`` ``tratamento`` ``de`` ``cada`` ``planta`` ``individualmente`` ``no`` ``TOXBASE`` ``ou`` ``livros`` ``do`` ``CIATox.

Exemplos de Plantas com Alcalóides Beladonados:

Brugmansia suaveolens ou Datura suaveolens (saia branca, trombeta, trombeteira, aguadeira, buzina, zabumba). Família: Solanaceae. Parte tóxica: Todas as partes da planta, principalmente flores, folhas e sementes. Substância ativa: atropina, hioscina. Fonte: https://floradigital.ufsc.br/open_sp.php?img=22043

Brugmansia suaveolens ou Datura suaveolens (saia branca, trombeta, trombeteira, aguadeira, buzina, zabumba). Família: Solanaceae. Parte tóxica: Todas as partes da planta, principalmente flores, folhas e sementes. Substância ativa: atropina, hioscina. Fonte: https://floradigital.ufsc.br/open_sp.php?img=22043

Cestrum nocturnum (dama da noite, jasmim verde). Família: Solanaceae. Parte tóxica: Principalmente frutos e folhas. Substância ativa: Glicoalcalóides do tipo solanina e alcalóides do tipo atropina. Fonte: https://plants.ces.ncsu.edu/plants/cestrum/

Cestrum nocturnum (dama da noite, jasmim verde). Família: Solanaceae. Parte tóxica: Principalmente frutos e folhas. Substância ativa: Glicoalcalóides do tipo solanina e alcalóides do tipo atropina. Fonte: https://plants.ces.ncsu.edu/plants/cestrum/

Datura metel (trombeteira-roxa, saia roxa). Família: Solanaceae. Parte tóxica: Todas as partes da planta, principalmente flores, folhas e sementes. Substância ativa: atropina, hioscina. Fonte: https://plants.ces.ncsu.edu/plants/datura-metel/

Datura metel (trombeteira-roxa, saia roxa). Família: Solanaceae. Parte tóxica: Todas as partes da planta, principalmente flores, folhas e sementes. Substância ativa: atropina, hioscina. Fonte: https://plants.ces.ncsu.edu/plants/datura-metel/

Datura stramonium (figueira do inferno, aubaitinga, erva do diabo, erva dos mágicos, erva dos feiticeiros). Família: Solanaceae. Parte tóxica: Todas as partes da planta, principalmente flores, folhas e sementes. Substância ativa: atropina, hioscina. Fonte: https://plants.ces.ncsu.edu/plants/datura-stramonium/

Datura stramonium (figueira do inferno, aubaitinga, erva do diabo, erva dos mágicos, erva dos feiticeiros). Família: Solanaceae. Parte tóxica: Todas as partes da planta, principalmente flores, folhas e sementes. Substância ativa: atropina, hioscina. Fonte: https://plants.ces.ncsu.edu/plants/datura-stramonium/

Referências

  1. Andrade Filho, A.; Campolina, D.; Dias, M. B. Toxicologia na prática clínica. 2° ed. Editora Folium. 2013. 675p.

  2. Atropa belladonna. In: NATIONAL POISONS INFORMATION SERVICE (NPIS). TOXBASE® © Crown copyright 1983-2023. Reino Unido, 2023. Disponível em: https://www.toxbase.org/. Acesso em: 20 Set. 2023. [acesso restrito].

  3. Matos, A. F. A. et al. Plantas tóxicas: estudo de fitotoxicologia química de plantas brasileiras. Instituto Plantarum de Estudos da Flora,

  4. 247p.

  5. Nelson LS, Shih RD, Balick MJ (2007) Handbook of poisonous and injurious plants, 2nd edn. Springer, Boston.

  6. North Carolina Extension Gardener Plant Toolbox. Disponível em: https://plants.ces.ncsu.edu/. Acesso em: 20 Set. 2023.

  7. Olsom, K.R. Manual de toxicologia clínica. 6ª edição. Editora Artmed. Porto Alegre, 2014.

  8. Simões, C. M. O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5. ed. rev. ampl. Porto Alegre / Florianópolis: Editora da Universidade UFRGS / Editora da UFSC, 2003.

  9. Manual de Toxicologia Clínica: Orientações para assistência e vigilância das intoxicações agudas / [Organizadores] Edna Maria Miello Hernandez, Roberto Moacyr Ribeiro Rodrigues, Themis Mizerkowski Torres. São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde, 2017. 465 p.

  10. Schwartsman, S. Plantas venenosas e animais peçonhentos. São Paulo:Sarvier; 1992. 135p.

Elaborado por: Marisete Canello Resener

Revisado por: Adriana Mello Barotto, Taciana Mara da Silva Seemann

Registrado por: Marisete Canello Resener

Data: Setembro/2023.