Abordagem Inicial na suspeita de Intoxicação
Abordagem Inicial
A intoxicação aguda é uma condição clínica que pode evoluir rapidamente a um estado grave, cujo desfecho é geralmente relacionado à qualidade e ao tempo de início da abordagem inicial. Na maioria das situações, os agentes envolvidos podem ser rapidamente identificados pela anamnese, exame físico e exames complementares.
Atendimento Pré Hospitalar
Objetivos:
- Dividir situações clínicas complexas em partes, facilitando o manejo;
- Fornecer tratamento para salvar a vida através de um algoritmo de avaliação;
- Estabelecer percepção comum da situação entre todos os provedores de tratamento;
- Ganhar tempo para estabelecer diagnósticos e tratamentos definitivos.
Avaliação ABCDE:
A (Airway): Avaliar voz, sons respiratórios ⇒ inclinação da cabeça e elevação do queixo, aspirar secreção e administrar oxigênio (15L/min). B (Breathing): Avaliar FR, movimentos parede torácica, ausculta pulmonar, oximetria pulso ⇒ leito confortável, ventilações, medicamentos inalatórios, ventilação balão/máscara, descomprimir tensão pneumotórax. C (Circulation): Avaliar cor da pele, sudorese, TEC, pulso, ausculta cardíaca, PA, ECG ⇒ interromper sangramento, elevar membros inferiores, acesso EV, solução salina. D (Disability): Avaliar Escala de Glasgow, reflexos pupilares à luz, glicemia ⇒ vias aéreas, respiração, posição, correção glicemia. E (Exposure): Avaliar exposição da pele, Temperatura axilar ⇒ tratar causa suspeita. |
Avaliação do paciente estabilizado
O exame clínico revela sinais imprescindíveis para o estabelecimento do diagnóstico de intoxicação aguda, sobretudo na identificação de síndromes tóxicas ou quando não há história da exposição/informações não confiáveis. Embora sinais característicos ocorram logo após a exposição a determinados agentes, as avaliações seriadas revelam informações valiosas. Passada a urgência do problema, com o paciente estabilizado, médico e equipe devem dedicar-se aos detalhes. Anamnese:
- Agente: tipo de produto, nome comercial, embalagem, aspecto físico (cor, sabor, odor), comprimido, miligramagem;
- Exposição: dose, freqüência (crônico/agudo), via, tempo decorrido;
- Circunstância: acidental, ocupacional, intencional;
- Antecedentes, comorbidades, uso prévio de medicações.
Monitorização:
- Sinais vitais, ausculta cardíaca e pulmonar;
- Alterações em hálito/secreções/coloração e umidade pele e mucosas;
- Exame abdominal –massas palpáveis, dor, RHA;
- Postura/movimentação, tônus muscular e reflexos;
- Estado mental e nivel de consciência, avaliação das pupilas (diâmetro, simetria e reatividade).
Exames complementares: Em pacientes com intoxicações moderadas ou graves, é importante monitorar função hepática e renal, pois fígado e rins são sítios de eliminação da maioria dos agentes tóxicos. *AST, ALT, GGT, FA, TAP, Ureia, Creatinina. *Outros exames incluem HMG, eletrólitos, gasometria, glicemia, CPK, PU, ECG, Rx, EEG/ TC de acordo com a suspeita clínica. Análises toxicológicas: alguns exames são úteis em emergências:
- Análises qualitativas ou quantitativas em fluidos biológicos (conteúdo gástrico, sangue, urina e excepcionalmente líquor, leite materno);
- Determinação atividade enzimáticas (colinesterase) e pigmentos modificados (metemoglobinemia).
Triagens toxicológicas solicitadas antes de obter dados da história de exposição e/ou exame físico incompleto dificultam a interpretação dos resultados.
Sindrome tóxica é um conjunto de sinais e sintomas característicos de determinados grupos de substâncias. Em muitos casos, principalmente em exposições autoprovocadas (tentativa suicídio, abuso) ou doentes idosos/psiquiátricos, ocorre associação de um ou mais medicamentos, bebidas alcoólicas e/ou outras substâncias, resultando em quadros complexos decorrentes de interações, nem sempre conhecidas.
Sedativo-Hipnótica e Opioide
- Sinais e sintomas: Sonolência, letargia, torpor, coma, depressão respiratória, hipotonia, hipotermia, hiporreflexia, hipotensão, bradicardia, RHA diminuídos, pupilas normais ou alternando miose/midríase ou miose puntiforme (opioide).
- Principais agentes sedativo-hipnoticos: barbitúricos, benzodiazepínicos, etano.
- Principais agentes opioides: codeína, difenoxilato, fentanil, heroína, loperamida, meperidina, morfina, tintura ópio.
Colinérgica
- Sinais e sintomas Muscarínicos: TGI (náusea, vômito, diarréia, cólicas, RHA aumentados); hipersecreção (broncorreia, lacrimejamento, salivação, sudorese); incontinência urinária; broncoespasmo; hipotensão, bradicardia e miose.
- Sinais e sintomas Nicotínicos: Neuromusculares (fraqueza, fasciculações, mioclonia, paralisia, ataxia), cardiovasculares (hipertensão, taquicardia, disritrmia), neuropsíquicas (agitação, ansiedade, desorientação, convulsão, coma, midríase).
- Principais agentes: Inseticidas organofosforados e carbamatos, fisostigmina, cogumelos de ação muscarínica.
Anticolinérgica
- Sinais e sintomas: agitação, alucinação, confusão mental, delirio, hipertermia, hipertensão, taquicardia, pele seca, rubor facial, midríase, retenção urinária e RHA diminuídos. Casos graves: mioclonia, convulsão, hipotensão e disritmia cardíaca.
- Principais agentes: anti-histamínicos (bromofeniramina, ciproeptadina, dexclorfeniramina, difenidramina, pimetixeno, prometazina), antiparkinsoniano (biperideno), antiespasmódico (atropina, escopolamina), antidepressivos (amitriptilina), plantas (Datura sp “saia branca”), fungos (Amanita muscaria).
Adrenérgica (Simpaticomimética)
- Sinais e sintomas: agitação, delirio, paranóia, arritmias cardíacas (principalmente taquicardias), palidez, hipertensão, hipertermia, diaforese, piloereção, midríase, hiperreflexia. Casos graves: convulsão, hipotensão, disritmia cardíaca.
- Principais agentes: anfetamina, cafeína, cocaína, efedrina, fenilefrina, fenilpropanolamina, fenoterol, pseudoefedrina, teofilina.
Serotoninérgica
- Sinais e sintomas: náuseas, vômitos, diarréia, lacrimejamento, rubor, alteração do estado mental (agitação, delírio, coma), disfunção autonômica (midríase, diaforese, hipertermia, taquicardia, instabilidade hemodinâmica), alteração neuromuscular (tremores, rigidez, ataxia, convulsão, hiperreflexia).
- Principais agentes: antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina (citalopram, escitalopram, fluoxetina, paroxetina, sertralina, venlafaxina), drogas de abuso (dextrometorfano, ecstasy, MDMA).
Extrapiramidal aguda
- Sinais e sintomas: distonia (crises oculogíricas, contração da musculatura facial -lábios, língua e mandíbula), pescoço (rigidez de nuca, torcicolo), membros (sinal da roda dentada), tremores, movimentos involuntários, sialorreia, sonolência. Casos graves: hipertonia generalizada (opistótono), torpor, coma, miose/midríase.
- Principais agentes: antipsicóticos (haloperidol, clorpromazina, flufenazin, trifluperazina, perfenazina, tiotixeno, risperidona), antieméticos (metoclopramida, bromoprida).
Referências
BAROTTO, Adriana Mello; CORDIOLI, M. I. C. V. ; GRANDO, Margaret . Intoxicações agudas. In: Associação de Medicina Intensiva Brasileira; Fernando Antônio Botoni; Fernando Suparregui Dias.. (Org.). Programa de Atualização em Medicina Intensiva (PROAMI), Sistema de Educação Médica Continuada a Distância (SECAD). 1ed.Porto Alegre (RS): Artmed Panamericana Editora, 2009, v. , p. 39-86.
OLSON, K.R. Manual de toxicologia clínica. 6ª edição. Editora Artmed. Porto Alegre, 2014.
OGA, S.; CAMARGO, M.M.A; BATISTUZZO, J.A.O. Fundamentos de Toxicologia. 4ª edição. Editora Atheneu. São Paulo, 2014.
Atualizado em: Junho/2016
Equipe CIT/SC
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