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Apis mellifera - Abelhas e vespas

Classificação

Nome Popular: Abelha, Honeybee, Abelha africanizada, Abelha italiana, Vespa, Marimbondo, Mamangava, Cassununga, Caba, Cavalo-do-cão.

Nome Científico: Apis mellifera, Polybia sp, Stelopolibia sp, Brachygastra sp.

Filo: Arthropoda

Classe: Insecta

Ordem: Hymenoptera

Família: Apidae / Vespidae / Pompiidae

Gênero: Apis sp / Polybia sp / Brachigastra sp

Abelha (Apis mellifera)

Abelha (Apis mellifera)

Marimbondo

Marimbondo

Vespa (Polibya sp).JPG

Vespa (Polibya sp).JPG

Descrição

Os himenópteros são conhecidos popularmente como vespas, abelhas e formigas, e no país são descritas cerca de 10 mil espécies com estimativa real de aproximadamente 70 mil quando a fauna estiver bem conhecida. Alimentam-se de tecido vegetal, principalmente folhas, porém a maioria das espécies de vespas tem comportamento parasítico ou predatório.

No Brasil, a única espécie de abelha existente é a Apis mellifera, que é popularmente conhecida como abelha africanizada ou abelha-de-mel (um híbrido resultante do cruzamento de abelhas européias e africanas). Caracterizam-se pelo marcante comportamento defensivo, com ataques em massa, o que lhes atribuiu o apelido de abelhas assassinas. Mesmo distantes da colméia, persistem atacando o inimigo.

A abelha pica apenas uma vez, deixando o ferrão (ponta similar a um anzol) na vítima e morrendo após a ferroada. Após a picada, ocorre desprendimento do aparelho inoculador (incluindo todo conteúdo distal do segmento abdominal), e o ferrão com o saco de veneno fica preso na pele da vítima e tem movimentos próprios (é envolvido por músculos ligados a um gânglio nervoso), inoculando todo veneno em cerca de 2 minutos.

A abelha africanizada é encontrada em todos os continentes, exceto na Antártida, e foram se adaptando aos locais conforme se espalharam geograficamente.

As vespas são um grupo diversificado, estimado em mais de 100 mil espécies descritas, são consideradas vespas todos os insetos da ordem Hymenoptera que não são abelhas e nem formigas. As vespas tem comportamento mais agressivo, não perdem o ferrão (ponta lisa) e podem picar múltiplas vezes, sem morrer após as ferroadas.

Ações do Veneno

Abelhas: a toxicidade do veneno de abelhas melíferas é atribuída a 3 tipos fundamentais de componentes protéicos: enzimas, grandes peptídeos e pequenas moléculas.

  • Enzimas:
    • Fosfolipases :destruição de fosfolipídios de membrana, levando à ruptura do arranjo das membranas com conseqüente lise celular.
    • Hialuronidase:hidrolisa o ácido hialurônico, acelerando a difusão do veneno através dos tecidos.
  • Grandes peptídeos
    • Melitina: representa 50% do peso seco do veneno, é a toxina mais ativa do veneno das abelhas. Tem ação sinérgica com a fosfolipase A2 sobre fosfolipídeos de membranas, resultando no comprometimento da integridade da membrana celular e da membrana mitocondrial (compromete fosforilação oxidativa e cadeia respiratória), levando a dano tecidual.
    • Apamina: constitui apenas 2% do peso seco do veneno, experimentalmente foi comprovada ação sobre o sistema nervoso central e periférico, porém seu papel no envenenamento humano é ainda desconhecido.
    • Peptídeo degranulador de mastócitos (PDM): principal responsável pela liberação de mediadores de mastócitos e basófilos, como histamina, serotonina, derivados do ácido araquidônico e fatores que atuam sobre plaquetas e eosinófilos. Participa do quadro de intoxicação histamínica observado nas fases iniciais do acidente.
  • Pequenas moléculas:
    • Peptídeos (secarpina, tertiapina, procamina): parecem destituídos de toxicidade em mamíferos.
    • Aminas biogênicas: histamina, serotonina, dopamina e noradrenalina tem sido identificadas no veneno de abelhas.

A histamina ocasiona vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar, podendo também em níveis elevados, ativar liberação de adrenalina, explicando o quadro clínico de intoxicação adrenérgica observado no início do envenenamento.

Vespas: além de enzimas como fosfolipases, hialuronidase e fosfatase ácida, os venenos de vespídios possuem uma série de peptídeos hidrofóbicos, como componentes peptidérgicos.

Os mastoparanos causam degranulação de mastócitos para liberação de histaminas. Alguns mastoparanos podem provocar hemólise e liberação de serotonina das plaquetas.

Os peptídeos citotrópicos (quimiotáticos) possuem atividade quimiotática para linfócitos polimorfonucleares e monócitos, sendo que alguns desses peptídeos também causam liberação de histamina dos mastócitos.

As cininas (derivadas da bradicinina) estão relacionadas com a ocorrência da dor.

Manifestações Clínicas

Manifestações Locais: Manifestações inflamatórias (dor, hiperemia, edema) costumam surgir rapidamente após a picada e podem persistir por horas a dias.

Costuma haver uma área central clara, onde o ferrão é encontrado (no caso de acidentes por abelha), circundado por um halo avermelhado.

Manifestações Sistêmicas:

Anafilaxia: indivíduos previamente sensibilizados podem manifestar reação de hipersensibilidade imediata, com sinais e sintomas de anafilaxia (surgimento súbito de alterações de pele/mucosa, comprometimento de vias aéreas e comprometimento circulatório) – urticária, angioedema, lacrimejamento, broncoespasmo, edema de laringe, hipotensão, arritmias, náuseas, vômitos, dor abdominal, diarréia, distensão abdominal. O início do quadro geralmente é rápido, em segundos a minutos após a ferroada e aparece, na maioria dos casos em até 30 minutos.

Reações de toxicidade: decorrentes de múltiplas picadas (em geral, acima de 100 no adulto), inicialmente prurido, rubor e calor generalizados, podendo surgir pápulas e placas urticariformes disseminadas pelo corpo.

Estima-se que a quantidade letal seja de 300-500 picadas em adultos e 30-50 picadas em crianças de até 2 anos.

Hipotensão, manifestações adrenérgicas (taquicardia, sudorese, hipertermia), cefaleia, náuseas e/ou vômitos, cólicas abdominais, broncoespasmo, convulsões. A rabdomiólise instala-se precocemente, em geral nas primeiras horas após o acidente, provocando dores generalizadas e intensas. A hemólise também é de rápida instalação e tem intensidade variável, sendo responsável pelo surgimento de anemia e icterícia, risco de coagulação intravascular disseminada (CIVD).

Complicações:

A) Anafilaxia.

B) Insuficiência renal aguda de origem multifatorial – rabdomiólise, hemólise, hipotensão, não sendo possível descartar atividade nefrotóxica do veneno.

C) Rabdomiólise.

D) Lesão miocárdica, necrose hepática (menos frequentes).

Diagnóstico

Não há exames laboratoriais específicos para o diagnóstico do acidente por abelhas ou vespas.

O diagnóstico é feito basicamente pela história clínica. A presença de ferrões nas lesões facilita o diagnóstico de picadas de abelha.

Tratamento

Soro Antiapílico em fase de Ensaio Clínico* (mais informações no final da monografia).

  • Os pacientes devem permanecer em observação por no mínimo 1 hora após o acidente;
  • Retirar cuidadosamente os ferrões, utilizando preferencialmente uma lâmina para raspagem e não pinçar o ferrão;
  • Lavar local das picadas com água e sabão;
  • Analgesia + anti inflamatório + anti histamínicos, conforme necessidade;
  • Compressas frias + antisséptico tópico + loção de calamina, conforme necessidade;
  • Hidratação endovenosa;
  • Se edema extenso, considerar corticoesteroide sistêmico
  • Alcalinização urinária se necessário;
  • Diálise se insuficiência renal aguda;
  • Profilaxia para tétano, conforme necessidade.

Anafilaxia (tratamento igual ao da anafilaxia por outras causas + suporte cardiorrespiratório)

  • Adrenalina aquosa 1/1.000:
    • 0,2-0,5ml IM (face anterolateral da coxa) no adulto
    • 0,05 – 0,25ml IM (face anterolateral da coxa - 0,01mg/kg) na criança
  • Difenidramina 25-50mg EV (1mg/kg na criança) ou Prometazina 0,25mg/kg IM ou VO
  • Hidrocortisona 100-200mg EV (6/6h) ou Prednisona 0,5mg/kg/d VO (casos leves)
  • Oxigênio (se broncoespasmo, utilizar agonista beta-2-adrenérgico)
  • Volume (solução cristaloide ou coloide) se hipotensão:
    • SF 0,9% 1 a 2 Litros inicialmente, usando a relação 5-10ml/kg nos primeiros 5 minutos.
  • Após a alta, manter anti histamínico e corticóide VO por 5 a 7 dias.

Exames/Monitorização

Não há exames específicos para o diagnóstico.

Casos graves e/ou múltiplas picadas

  • Manter em observação por pelo menos 12-24 horas;
  • Solicitar hemograma, parcial de urina, CPK, LDH, TGO, TGP, Creatinina, Ureia, eletrólitos, TAP, Bilirrubinas.
  • Avaliar diurese e aspecto da urina.

Prognóstico

Com uma ou poucas picadas (e indivíduo não sensibilizado), o prognóstico é bom, apresentando na maioria dos casos apenas manifestações leves.

Nos indivíduos sensibilizados, apenas uma picada é capaz desencadear reação de hipersensibilidade imediata, podendo levar a anafilaxia.

Nos casos com múltiplas picadas, o prognóstico depende do tratamento de suporte adequado, podendo ter algumas complicações.

Estudo APIS

*O primeiro ensaio clínico de um soro contra o veneno de abelhas.

Ensaio clínico fase I/II, aberto, não randomizado, para avaliar a segurança, a capacidade neutralizante e confirmar a menor dose eficaz do soro antiapílico para o tratamento de múltiplas picadas de abelhas africanizadas Apis mellifera.

O soro anti apílico foi produzido através de um consórcio entre o CEVAP UNESP e o Instituto Vital Brasil.

Em 2013, liderado pela Faculdade de Medicina da UNESP e por sua Unidade de Pesquisa Clínica (UPECLIN), o Estudo APIS foi delineado e entregue para análise das instâncias regulatórias no Brasil, o sistema CEP-CONEP e a ANVISA.

Atualmente, o Estudo APIS está em andamento, recrutando pacientes nas seguintes localidades:

  • UNESP (Botucatu/SP)
  • UFTM (Uberaba/MG)
  • UNISUL (Tubarão/SC).

Quais são os pacientes candidatos ao Estudo APIS?

CRITÉRIOS:

  1. Diagnóstico de acidente com abelhas africanizadas Apis mellifera
  2. Esta abelha, ao picar, deixa o ferrão no local
  3. Ser acometido por cinco ou mais picadas
  4. Idade acima de 18 anos , de ambos os sexos
  5. Não estar gestante
  6. Concordância do voluntário ou familiar

Encaminhamento de voluntários e informações no telefone (24 horas): (14) 99667-1717

Referências

CARDOSO, J.L.C et al. Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. 2 ª edição. São Paulo: SARVIER, 2009.

ANDRADE, A. et al. Toxicologia na prática clínica. 2ª edição. Belo Horizonte: Folium, 2013.

RAFAEL, J.A et al. Insetos do Brasil: Diversidade e Taxonomia. 1ª edição. Ribeirão Preto: Holos, 2012.

http://cevap.org.br/soro-antiapilico Acesso em 14 de Setembro de 2017.

http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/tem-noticias-1edicao/videos/t/edicoes/v/pesquisadores-realizam-testes-com-soro-contra-picadas-de-abelhas/4915762/ Acesso em 14 de Setembro de 2017

https://www.toxbase.org/poisons-index-a-z/b-products/bee-sting/ Acesso em 14 de Setembro de 2017

ABELHAS. Auxílio ao Atendimento. Monografias CIT/SC, 2003.

Elaboração: Equipe CIT/SC

Atualizado em: Setembro 2017.