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Piretrinas e Piretróides (Agrotóxicos, Inseticidas de uso Doméstico e Produtos Veterinários)

Nome e Sinônimos

  • Piretróides (Pyrethroids)
  • Piretrinas (Pyrethrins)
    • SUBSTÂNCIAS: Acrinatrina, Aletrina (delta-aletrina), Alfa-cipermetrina, Beta-ciflutrina, Beta-cipermetrina, Bifentrina, Bioaletrina, Bioresmetrina, Cifenotrina, Ciflutrina, Cipermetrina, Deltametrina, Pentrina , Esbiol (S-biolaletrina), Esbiotrim (D-aletrina), Esfenvalerato, Fenotrina, Fenpropatrina, Fenvalerato, Flumetrina, Fluvalinato, Gama-cialotrina, Imiprotrim, Lambda-cialotrina, Metoflutrina, Metopreno, Permetrina, Piretrinas (cinerina i, cinerina ii, jasmolina i, jasmolina ii, piretrina i, piretrina ii), Praletrina, Resmetrina, Sumitrina, Tetrametrina, Transflutrina, Zeta-cipermetrina

Descrição

As piretrinas são inseticidas naturais obtidos das flores do crisântemo. Os piretróides são compostos sinteticamente derivados, mais potentes e consequentemente mais tóxicos. Existem dois tipos de categorias de piretroides (tipo I e tipo II, classificados de acordo com a presença ou ausência do grupo químico ciano). A intoxicação humana aguda a partir da exposição a esses inseticidas é rara; entretanto, eles podem causar irritação na pele e nas vias aéreas e reações de hipersensibilidade. Casos de ingestão são potencialmente mais graves.

Classe/Uso/Apresentação

Classe: Inseticidas e repelentes de insetos

Grupo químico: Piretróides. Tipo I e Tipo II, de acordo com a ausência ou presença de grupo químico ciano na posição alfa.

Uso:

  • Agrícola: controle de insetos em plantações, grãos armazenados, silos, etc.;
  • Veterinário: controle de ectoparasitas em grandes ou pequenos animais;
  • Campanhas de saúde pública: desinsetizacão de residências e ambientes, para erradicação de vetores ou insetos domiciliares, uso restrito a aplicadores profissionais.
  • Farmacêutico: de uso tópico com reduzida absorção dérmica (2%) pouca absorção por via oral. Ex.; permetrina para pediculose (1%) e para escabiose (até 5%); deltametrina 1-2%.

Apresentação Comercial: Espirais, refil elétrico (cartões impregnados ou líquido), pastas, líquidos volatizantes, líquidos para vaporização em bombas, aerossol. Frequentemente associados com BUTÓXIDO DE PIPERONILA, que potencializa a ação.

Nome Substância Classe Uso Nomes Comerciais usuais
Acrinatrina Tipo II Inseticida/Acaricida Rufast
Aletrina (delta-aletrina) Tipo I Inseticida Detefon Espiral
Alfa-cipermetrina Tipo II Anti-parasitário/Inseticida Fastac, Imunit*, Muneo*, Nepaxir*
Beta-ciflutrina Tipo II Inseticida Bulldok 125, Confidor*, Connect*, Ducat, Full, Thorn*, Turbo
Beta-cipermetrina Tipo II Inseticida Akito, Optrix
Bifentrina Tipo I Inseticida/Acaricida/Formicida Ametista*, Biflex, Bistar, Brigada, Capture, Comissario*, Coremaxx*, Galil*, Herol*, Insemat FS, Prez*, Prostore, Rhino*, Rocks*, Seizer, Sperto*, Starion, Talismann, Talstar, Triller
Bioaletrina Tipo I Inseticida Sarnapin (loção, sabonete, shampoo)
Bioresmetrina Tipo I Inseticida Bioresmina
Cifenotrina Tipo II Inseticida Jimo Inset* aerossol
Ciflutrina Tipo II Anti-parasitário/Inseticida Bulldok 125, Ducat, Full
Cipermetrina Tipo II Anti-parasit/Inseticida/ Formic. Alika*, Ametista*, Brit, Commanche, Cyman, Cyper Copa, Cyper Prime, Engeo, Formicida Fumacê, Galgotrin, Polytrin, Shyper, Splat Cida
Deltametrina Tipo II Anti-parasit/Inseticida/ Formic. Decis, Decis Ultra, Kieshet, K-Obiol 2P, K-Obiol 25, K-Othrine
Pentrina Tipo I Inseticida Jimo Anti-traça (aerossol e pastilhas)
Esbiol (S-biolaletrina) Tipo I Inseticida Esbiol (S-biolaletrina)
Esbiotrim (D-aletrina) Tipo I Inseticida Fort Repelente 60 noites
Esfenvalerato Tipo II Inseticida Sumidan, Sumialpha, Plinto
Fenotrina Tipo I Inseticida My Pet
Fenpropatrina Tipo II Inseticida/Acaricida Danimen 300 EC, Meothrin 300, Sumirod 300
Fenvalerato Tipo II Inseticida/Acaricida Fort Mata Cupim
Flumetrina Tipo II Anti-parasitário Bayticol Pour On
Fluvalinato Tipo II Inseticida/Acaricida Mavrik
Gama-cialotrina Tipo II Inseticida Fentrol, Nexide, Nordik*, Stallion
Imiprotrim Tipo II Inseticida SPB spray*, Baropil spray*
Lambda-cialotrina Tipo I Inseticida Inseticon, Termimax Lambda, Demand, Lambda Mix, Fortis, Karate, Planet
Metoflutrina Tipo I Inseticida Metoflutrina
Metopreno Tipo I Anti-parasitário Frontline, Confront
Permetrina Tipo I Anti-parasit/Inseticida/Formic. Kwell, Pioletal, Fersol, Piosay, Piredan, Pounce, Nedax, Corsair, Tifon
Piretrinas (cinerina i, cinerina ii, jasmolina i, jasmolina ii, piretrina i, piretrina ii) Tipo I Anti-parasitário/Inseticida Aquapy, Piolixina
Praletrina Tipo I Inseticida/Repelente de insetos Nokgrad, Shoot, Raid Líquido Elétrico
Resmetrina Tipo I Inseticida Resmetrina
Sumitrina Tipo I Inseticida Sumitrina
Tetrametrina Tipo I Inseticida Extermix
Transflutrina Tipo I Inseticida Mat Inset, SBP Noites Tranquilas
Zeta-cipermetrina Tipo II Anti-parasitário/Inseticida Mustang, Hero, Fury 200

OBS: ( * ) O produto comercial apresenta mais de uma substância em sua formulação.

Toxicidade Aguda

Dose Tóxica: Varia de acordo com o princípio ativo. Dose oral tóxica em mamíferos é superior a 100 a 1.000 mg/kg, e a dose oral potencialmente letal é de 10 a 100 g (Olson, 2014).

Produtos de uso doméstico e medicamentos contendo piretroides tem baixa concentração, enquanto produtos de uso agrícola, veterinário e clandestinos contem maiores concentrações do princípio ativo.

Em apresentações líquidas, muitos produtos contêm SOLVENTES derivados de petróleo, os quais potencializam o risco.

Todos os pacientes que ingeriram em tentativa de suicídio devem ser encaminhados para avaliação médica e avaliação psicológica/psiquiátrica.

Mecanismo de Toxicidade: Os piretroides agem diretamente nos canais de sódio, alterando a sua permeabilidade e, consequentemente, aumentando o tempo da fase excitatória do potencial de ação. Essa é uma das características toxicodinâmicas marcantes desses compostos. Tal qual as demais classes de inseticidas, as intoxicações orais com piretroides são normalmente mais graves do que as decorrentes da exposição dérmica. A toxicidade em humanos está associada primariamente às reações de hipersensibilidadee aos efeitos irritantes diretos, mais do que a qualquer propriedade farmacológica.

a) Piretróides tipo I (sem grupo químico alfa-ciano): Prolongamento da abertura de canais de sódio é moderada. São aqueles que causam tremores como efeito tóxico principal, sendo assim considerados como produtores da síndrome do envenenamento tipo I ou “Síndrome T”; causando agressividade, espasmos, tremores, convulsão, falta de coordenação, todos esses conhecidos como Síndrome T (tremores).

b)Piretróides tipo II (com grupo químico alfa-ciano): Ocorre a abertura de canais de sódio com prolongamento mais intenso; há também possível interação com receptores do complexo GABA. Causam coreoatetose (desordem nervosa caracterizada pelos movimentos involuntários e incontroláveis) e salivação (Síndrome da Coreoatetose tipo II ou “Síndrome CS”).

Entretanto, cabe destacar que alguns piretroides, como é o caso da permetrina, exibem características T e CS, gerando um quadro clínico combinado das duas síndromes.

A presença de determinados solventes na formulação, como é o caso de etilenoglicol e hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, pode agravar os quadros de intoxicação com esses produtos. Juntamente com alguns adjuvantes, alguns solventes têm um potencial tóxico mais grave do que o inseticida em si, o qual merece atenção e deve ser considerado nos diagnósticos e no estabelecimento de condutas terapêuticas apropriadas.

Cinética: Estudos em ratos indicam que após a absorção, os piretroides são rapidamente distribuídos em todo o organismo, principalmente no tecido adiposo, estômago, intestino, fígado, rins e sistema nervoso. A sua metabolização é rápida e extensiva. A sua excreção é bastante rápida, mesmo após exposições repetidas.

Absorção: A biodisponibilidade desses compostos por meio da absorção gástrica é estimada como sendo de 36%, enquanto que a dérmica é de apenas 1%.

Via inalatória: Não relatado percentual absorvido, porém, exposição pode causar irritação de vias aéreas e reações de hipersensibilidade.

Uso tópico: Preparações farmacêuticas têm absorção sistêmica menor que 2%.

Metabolismo: Rápido em mamíferos, não há tendência de acumulação tecidual. Metabólitos são inativos.

Eliminação: Estima-se que 90% da dose administrada é excretada na urina e nas fezes dentro de uma semana após a exposição.

Manifestações Clínicas, Medidas de descontaminação e Tratamento

  • Para todos os casos suspeitos de intoxicação por formulações a base de piretróides, investigar com a vítima, com familiares ou com os que lhe prestarem o atendimento inicial, a composição exata do produto ao qual o paciente foi exposto, principalmente nos casos de ingestão intencional.
  • Intoxicação aguda por superdosagem de piretróides é rara, usualmente produtos de uso domiciliar têm baixa concentração, efeitos usualmente associados com HIPERSENSIBILIDADE ou IRRITAÇÃO DIRETA.
  • Os sintomas aparecem entre 10 a 60 minutos após a ingestão. Em apresentações líquidas, muitos produtos contêm SOLVENTES derivados de petróleo, os quais potencializam o risco (verificar monografia de Solventes ou de outros componentes presentes na formulação.)
  • Reações anafiláticas, incluindo broncospasmo, edema orofaríngeo e choque, poderão ocorrer em indivíduos hipersensíveis.
  • Nos casos graves pode ocorrer convulsões (flexão de membros superiores e extensão dos inferiores), opistótono e depressão do SNC, coma, parada respiratória.
  • Não há antídotos disponíveis que possam ser utilizados nos casos de intoxicações agudas por formulações contendo piretróides. O tratamento será de acordo com os sintomas apresentados.
  • Eliminação aumentada é contraindicada, pois esses compostos são metabolizados rapidamente no corpo, e os métodos extracorpóreos de eliminação não devem aumentar a sua eliminação.
  • Não existem sintomas clínicos característicos ou testes laboratoriais específicos para identificar esses compostos.
  • Tempo de observação:
    • Observar os pacientes com história de ingestão maciça por pelo menos 4 a 6 horas à procura de quaisquer sinais de depressão do SNC ou convulsão.
    • Nos casos graves, manter o paciente em observação por no mínimo 36 horas.

Tabela 1: Via da exposição, Manifestações Clínicas, Medidas de descontaminação e Tratamento

Via de Exposição

Manifestações Clínicas

Medidas de descontaminação e tratamento

ORAL (Casos Leves)

  • Sintomas gastrointestinais: dor epigástrica, náuseas e vômitos.
  • Lavar a mucosa oral com água
  • Tratamento sintomático e suportivo

ORAL (Casos moderados ou graves) (Ingestão de 200 a 500 mL de solução concentrada)

  • Sialorreia, dor de garganta, desconforto e dor epigástrica, náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia;
  • Bradicardia ou taquicardia, hipotensão arterial, turgência jugular, parada sinusal; extra-sístole ventricular;
  • Cefaleia, midríase;
  • Bradipneia, dispneia, broncorreia, crepitações;
  • Cianose;
  • Câimbras musculares, fasciculação, astenia, adinamia
  • Coma e parada respiratória
  • Não há evidências suficientes para amparar o uso de carvão ativado e lavagem gástrica em pacientes intoxicados por piretroides, apesar de alguns relatos apresentados na literatura, nos quais há indícios de uma possível redução da biodisponibilidade do agente tóxico ao se realizar o procedimento em até 60 minutos após a ingestão
  • Em casos de ingestão de grandes volumes, considerar a realização das medidas de descontaminação gástrica (lavagem gástrica e/ou carvão ativado) em até uma hora após a exposição.
  • Tratamento sintomático e suportivo

CUTÂNEA

  • Dermatite de contato com prurido e vesiculação.
  • Eritema, edema, fisgada.
  • Parestesia, queimação e adormecimento na pele, com duração de 12 a 18 horas. Ela é percebida algumas horas após a exposição, como uma sensação de beliscar ou queimar, às vezes acompanhada de dormência da área, que piora com o a sudorese ou banhos com água morna ou quente, sendo de resolução espontânea. Geralmente, desaparece em menos de vinte e quatro horas.
  • Lavar copiosamente o local exposto com água e sabão.
  • Indica-se lavar a pele e/ou cabelos com quantidades abundantes de água e utilizar sabão neutro, se possível em banho de chuveiro.
  • Os atendentes devem utilizar luvas e proteção para evitar contato com secreções e roupas contaminadas
  • Não foram encontradas evidências que suportem a eficácia do uso de histamínicos, de hidratantes à base de Vitamina E ou a recomendação banhos com água mais fria para o tratamento das intoxicações decorrentes da exposição dérmica aos piretroides. Contudo, essas são práticas adotadas para alívio dos sintomas ocasionados pelo contato com esses produtos, principalmente em indivíduos com maior sensibilidade

OCULAR

  • Lesões de córnea (erosão), ceratite
  • Ardor e irritação
  • Edema periorbital
  • Lavar com água ou solução fisiológica 0,9%.
  • Se após a descontaminação, os sintomas persistirem, o paciente deverá ser avaliado por profissional da oftalmologia para avaliar possíveis lesões.

INALATÓRIA

  • Rinite, asma.
  • Reações de hipersensibilidade.
  • Pneumonite em casos de aspiração pulmonar.
  • Tosse, espirros, coriza e sensação de garganta “arranhada”
  • Edema de mucosa oral, de orofaringe e laringe.
  • Sibilos, dor torácica.
  • Os piretroides não são compostos voláteis, e a toxicidade pulmonar é devida ao solvente que foi utilizado como veículo.
  • Afastamento do local da exposição
  • Banho corporal com lavagem dos cabelos, se necessário
  • Assistência respiratória, se necessário.
  • Diazepam se apresentar convulsões e/ou hiperexcitabilidade.
  • Nos casos de hipersensibilidade severa utilizar medidas sintomáticas e de manutenção, com o uso de medicamentos anti-histamínicos e corticosteróides.

Exames/Monitorização

Não há exames laboratoriais específicos. Exames podem ser solicitados de acordo com o quadro clínico do paciente.

Algumas alterações hematológicas e bioquímicas podem ocorrer em pacientes expostos oralmente a esses produtos, sendo que o estabelecimento de um quadro de acidose metabólica é comum. Ele caracteriza-se pela redução nos níveis de bicarbonato e um aníon gap pronunciado, devendo estar atento para a ocorrência de alterações cardíacas, principalmente quando há na formulação solventes tóxicos.

Toxicidade Crônica

Não existem estudos consistentes sobre os efeitos tóxicos crônicos do uso dos piretróides. Uso sem proteção pode levar a sensações faciais na pele, parestesia, prurido, queimação, fisgadas. Casos severos, tremores e convulsões.

Exposição ocupacional a piretroides pode ocorrer, principalmente, por meio de contato e inalação de poeiras e sprays. Enquanto a inalação é a principal via de exposição em trabalhadores da indústria, a pele é a principal via de exposição de trabalhadores rurais e de agentes de controle de endemias. Contudo, no universo dos outros agrotóxicos, a exposição ocupacional aos piretroides, apesar de relevante no âmbito da saúde pública, é menos frequente. A parestesia é também um dos efeitos comumente observados entre trabalhadores expostos aos piretroides contendo grupo ciano (tipo II). Ela é percebida algumas horas após a exposição, como uma sensação de beliscar ou queimar, às vezes acompanhada de dormência da área, que piora com o a sudorese ou banhos com água morna ou quente, sendo de resolução espontânea. Geralmente, desaparece em menos de 24 horas.

Referências

BRASIL, Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. Diretrizes Brasileiras para o Diagnóstico e Tratamento de Intoxicações por Agrotóxicos – Volume 5. Brasília, abril de 2019. Acesso em 05.08.2019.

BRASIL, Ministério da Agricultura. Pecuária e Abastecimento. Agrofit – Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários. Disponível em http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/agrotoxicos/agrofit. Acesso em 22/08/2019.

OLSON, K.R. Manual de Toxicologia Clínica. 6ª ed. Editora Artmed. Porto Alegre, 2014.

OGA, S.; CAMARGO, M.M.A; BATISTUZZO, J.A.O. Fundamentos de Toxicologia. 4ª ed. Editora Atheneu. São Paulo, 2014.

NPIS – TOXBASE. Synthetic Pyrethroids. Disponível em: https://www.toxbase.org/Poisons-Index-A-Z/S-Products/Synthetic-Pyrethroids/?UD=OK. Acesso em 20/08/2019.

Elaborado por: Andrea Petry

Revisado por: Adriana Mello Barotto

Registrado por: Marisete Canello Resener

Data: Fevereiro/2020.