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Álcool Etílico (Etanol)

Nome e Sinônimos

Etanol, Álcool absoluto, Álcool anidro, Álcool desidratado (Alcohol, ethanol, ethyl alcohol). Presente também em outros produtos como perfumes, loções, preparações farmacêuticas, combustível e produtos de limpeza.

Resumo

O álcool etílico (etanol), é a droga de abuso mais utilizada no mundo. A depressão do Sistema Nervoso Central (SNC) é o principal efeito nas intoxicações agudas. O diagnóstico é baseado na história de exposição ao álcool, no cheiro característico e no exame físico atentando para as manifestações clínicas. A associação com outras drogas de abuso ou medicamentos é frequente.

Classe/Uso/Apresentação

Classe: Droga de abuso - Depressores do Sistema Nervoso Central (SNC)

Uso: O álcool etílico é preparado a partir da fermentação de açúcares ou carboidratos. É utilizado na fabricação de bebidas alcóolicas, na indústria farmacêutica, de cosméticos; desinfetantes e produtos combustíveis. Utilizado também como antídoto na intoxicação por metanol.

Toxicidade

Teores de álcool que causam intoxicação clínica podem variar amplamente dependendo da tolerância individual. Em pessoas que bebem casualmente, pode ocorrer coma em níveis próximos de **200mg/dL** e pode ser fatal em níveis próximos de **450mg/dL**.

Dose fatal em adultos é aproximadamente 5-8 g/Kg (6-10 mL/Kg de álcool absoluto).

Dose fatal em crianças é aproximadamente 3 g/Kg (4 mL/Kg de álcool absoluto).

Mecanismo de Ação: O etanol aumenta os efeitos inibitórios do ácido gamaaminobutírico (GABA) e inibe competitivamente a ligação da glicina ao receptor NMDA, interrompendo a neurotransmissão glutaminérgica excitatória, resultando em depressão do SNC. O uso crônico de etanol causa dessensibilização e regulação negativa dos receptores GABA-A e regulação positiva de NMDA. A cessação abrupta do uso de etanol causa um estado hiperexcitável, produzindo síndrome de abstinência de etanol. É tóxico para muitos sistemas orgânicos. Como resultado do uso abusivo e da dependência do álcool várias complicações clínicas são evidenciadas em nível hepático; cardiovascular; endócrino; gastrointestinal; nutricional e disfunções do SNC. O etanol atravessa rapidamente a barreira placentária provocando a síndrome alcoólica fetal - importante causa de retardo mental.

Farmacocinética: Absorvido rapidamente pelo trato gastrointestinal. Adultos absorvem 80-90% do álcool ingerido em 1 hora.Volume de distribuição do álcool é de 0,4 - 0,6L/Kg. O álcool vaporizado pode ser absorvido pelos pulmões. Absorção através da pele é insignificante.

Metabolização: Principalmente metabolizado / biotransformado no fígado (cerca de 95%) pela álcool desidrogenase em acetaldeído e depois em ácido acético.

Porcentagem aproximada de etanol em alguns produtos:

PRODUTO %
**Cerveja**4% - 6%
**Vinho** 10% - 20%
**Uísque**40% - 50%
**Rum** 40% - 50%
**Vodka**40% - 50%
**Cachaça** 40% - 50%
**Loção pós-barba**15% - 80%
**Perfumes** 25% - 95%
**Colônias** 40% - 60%
**Enxaguantes bucais** 15% - 21%
**Xarope Vick** 4,25%

Manifestações Clínicas

EFEITOS CLÍNICOS AGUDOS

Intoxicação leve a moderada: Euforia, ataxia, nistagmo, diplopia, desinibição, comportamento agressivo, disartria, náuseas, vômitos, rubor e taquiarritmias supraventriculares (principalmente fibrilação atrial).

Intoxicação grave: Coma, depressão respiratória, aspiração pulmonar, hipoglicemia (que pode levar a convulsões) e hipotermia podem ocorrer. Interrupção abrupta do uso crônico de etanol provoca abstinência, que se manifesta por hipertensão, taquicardia, tremores, convulsões e em casos graves, delírio. Acidose metabólica, pode estar presente e pode ser grave. O grau de acidose não pode, contudo, ser previsto pelas concentrações sanguíneas de etanol. A cetoacidose pode estar presente especialmente em pacientes com histórico de abuso de álcool e desnutrição crônica.

Outros Sintomas: Hipocalemia, acidose láctica, bradicardia, hepatite aguda, hipotonia. Rabdomiólise pode estar presente especialmente depois de um período de inconsciência após intoxicação por álcool (tempo prolongado de imobilização. Ex: Pacientes intoxicados por álcool que ficam em "sarjetas" por longos períodos)

Atenção com intoxicação associada com outras substâncias.

EFEITOS CLÍNICOS DURANTE A CONVALESCÊNCIA: Cefaleia pós alcoólica e gastrite; infecções (pneumonia).

EFEITOS CLÍNICOS CRÔNICOS: Distúrbios gastrointestinais com gastrite; úlcera; hepatite; cirrose e esteatose hepática; pancreatite; varizes de esôfago; deterioração mental crônica, envolvendo perda de memória; fala incompreensível; prejuízo da marcha; psicose; danos do músculo cardíaco e esquelético; impotência sexual; atrofia testicular; ginecomastia.

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA: É semelhante aos barbitúricos. Os sintomas de abstinência aparecem de 12 a 72 horas após a interrupção do consumo. Isto também pode ocorrer quando se modifica a forma de beber e quando se diminui a ingestão. Com níveis mínimos de dependência, podem ocorrer transtornos do sono, náuseas, debilidade, ansiedade, e ligeiros tremores que duram menos de 1 dia.

Em pacientes com grande dependência física existe 3 estados de abstinência bem definidos:

- Os tremores são acompanhados de náuseas, debilidade, ansiedade e sudorese.

- Pode haver câimbras e vômitos. Hiperreflexia.

- Iniciam alucinações visuais (fase é chamada "alucinação alcoólica").

Pode haver convulsões tônico-clônicas. O estado de tremor alcança intensidade máxima em 24-48 horas. Se a síndrome avança, há perda da consciência, debilidade, confusão, desorientação e agitação. Mais ou menos no terceiro dia surge o quadro de "delirium tremens" , com hipertermia, esgotamento e colapso cardiovascular. A síndrome de abstinência é autolimitada. Não ocorrendo óbito, a recuperação ocorre aproximadamente com 5-7 dias sem tratamento.

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA EM RECÉM-NASCIDOS: Apresentam a mesma síndrome de abstinência; pode ocorrer retardo mental permanente e outras anormalidades de desenvolvimento.

Tratamento

1. Medidas de suporte: Assegurar uma ventilação adequada das vias aéreas, particularmente em paciente prostrado.

2. Descontaminação: Lavagem gástrica não é benéfica uma vez que o álcool é rapidamente absorvido. Carvão ativado não reduz significativamente a taxa de absorção, mas pode ser útil no caso de ingestão associada de outros agentes tóxicos.

3. Tempo de observação:

  • Criança (com menos de 10 anos) observar por 4 horas, se mais do que 0,4 mL/kg de etanol absoluto foram ingeridos (isto é: 4 mL/kg de vinho 10% ou 8 mL/kg de cerveja 5%).
  • Adultos com características de toxicidade moderada ou grave: Observar durante um mínimo de 6 horas.
  • Ingestões mistas que envolvem agentes cardíacos/cardiotóxicos, pacientes assintomáticos devem ser monitorizados pelo menos um período mais longo do recomendado

4. Monitorar: Pulso, pressão arterial, ritmo cardíaco, nível de consciência, freqüência respiratória e temperatura corporal.

5. Monitorar glicose sanguínea em todos os pacientes.

6. Hipoglicemia: Corrigir hipoglicemia o mais rápido possível.

  • Glicose EV 50% para a hipoglicemia em adultos após confirmação com Glicemia capilar. Em crianças utilizar Glicose a 25 % e em lactentes utilizar glicose a 10%.
  • Considerar tratar etilistas crônicos (devido desnutrição) com tiamina EV para proteger contra o aparecimento de encefalopatia de Wernicke. Tiamina deve ser administrado por via EV antes de administrar glicose em etilistas crônicos e pacientes com sinais de desnutrição (incluindo pacientes do sexo feminino com magreza acentuada)

7. Desidratação: Os pacientes intoxicados, habitualmente podem estar desidratados, visto que o álcool inibe a secreção do hormonio antidiurético, o que provoca aumento da diurese, além do que podem ter apresentado vômitos o que contribui para o quadro de desidratação. Deve se utilizar Soro Fisiologico (SF 0,9%) para corrigir a desidratação

8. Hipotensão: Levantar o pé da cama e reposição adequada de líquidos com cristalóide (soro fisiológico). Tratar bradi e taquiarritmias adequadamente (segundo ACLS).

9. Acidose metabólica: Se a acidose metabólica persistir apesar de reposição hídrica adequada, considerar a correção com bicarbonato de sódio por via intravenosa.

10. Convulsões: Convulsões breves isoladas não necessitam de tratamento. Convulsões frequentes ou prolongadas administrar diazepam EV.

11. Rabdomiólise: Se estiver presente rabdomiólise (atividade de CK maior do que 5 vezes o limite superior do intervalo normal), risco de desenvolver insuficiência renal.

12. Solicitar: Glicemia, Hemograma, eletrólitos, CK, função renal, função hepática, gasometria

Exames/Monitorização

- Solicitar: Glicemia, Hemograma, eletrólitos, CK, função renal, função hepática, gasometria.

  • As concentrações de etanol no sangue são úteis para ajudar a avaliar a severidade da exposição, mas não está disponível na maioria dos laboratórios de urgência.
  • Na base de dados Micromedex, pode-se utilizar a calculadora para fazer uma estimativa do nível sérico de Etanol: Na "Calculadora" em "Antidote Dosing and Nomograms", selecionar "Alcohols/Ethylene Glycol Blood Level" e preencher os dados solicitados.

Fluxograma

Etanol_-_Fluxograma.jpg

Fluxograma de tratamento para intoxicação por Álcool Etílico

Bibliografia

ANDRADE, A. et al. Toxicologia na prática clínica. 2ª edição. Belo Horizonte: Folium, 2013.

MICROMEDEX Healthcare Series – POISINDEX - Ethanol. Disponível em:http://www.micromedexsolutions.com Acesso em: abril 2013.

TOXBASE (NPIS). Ethanol. Disponível em: http://www.toxbase.org/. Acesso em: abril 2013

OLSON, K.R. Manual de toxicologia clínica. 6ª edição. Editora Artmed. Porto Alegre, 2014.

Revisado por: Equipe do CIATox/SC. Última atualização: Março 2018.