Hipoclorito (Água Sanitária)
Nome e Sinônimos
Alvejantes à base de hipoclorito de sódio ou hipoclorito de cálcio, água sanitária, alvejante, desinfetante para uso geral, compostos liberadores de cloro (Hypochlorites and related agents, hypochlorite, sodium hypochlorite, calcium hypochlorite)
Resumo
O cloro é um gás amarelo-esverdeado mais denso do que o ar e com odor irritante. O hipoclorito é uma solução aquosa produzida pela reação do gás cloro com a água. A maioria das soluções domésticas, utilizadas como alvejantes, contém 2 a 5,6% de hipoclorito, mas os desinfetantes de piscina e os limpadores industriais podem conter até 20% de hipoclorito. A adição do ácido à solução de hipoclorito poderá liberar gás cloro. A adição de amônia à solução de hipoclorito poderá liberar cloramina, um gás com propriedades tóxicas semelhantes às do cloro. A maioria dos casos são leves, por ingestão de pequenas quantidades e baixas concentrações. Pode ocorrer também inalação do produto puro ou misturado com outras substâncias utilizadas em limpeza.
Classe/Uso/Apresentação
Classe/Uso: Produtos saneantes (Produtos Domissanitários).
Alvejante à base de hipoclorito de sódio ou hipoclorito de cálcio: Produtos destinados à desinfecção de ambientes, superfícies inanimadas e tecidos e alvejamento de objetos, tecidos, superfícies inanimadas e ambientes, em domicílios, instituições, indústrias e em estabelecimentos de assistência à saúde (RDC ANVISA Nº 109, 2016)
Alvejante à base de hipoclorito: solução aquosa com a finalidade de alvejamento e/ou desinfecção, cujo ativo é o hipoclorito de sódio ou de cálcio, com teor de cloro ativo entre 2,0% e 2,5 % p/p, podendo conter estabilizantes, corantes, fragrâncias, sequestrantes e/ou tensoativos em sua formulação.
Alvejante concentrado à base de hipoclorito: solução aquosa com a finalidade de alvejamento e/ou desinfecção, cujo ativo é o hipoclorito de sódio ou de cálcio, com teor de cloro ativo entre 3,9% e 5,6% p/p, podendo conter estabilizantes, corantes, fragrâncias, sequestrantes e/ou tensoativos em sua formulação.
Água sanitária: produtos destinados à desinfecção de ambientes, superfícies inanimadas, tecidos, hortifrutícolas e água para consumo humano e alvejamento de objetos, tecidos, superfícies inanimadas e ambientes. Solução aquosa com a finalidade de desinfecção e alvejamento, cujo ativo é o hipoclorito de sódio ou de cálcio, com teor de cloro ativo entre 2,0% e 2,5% p/p, podendo conter apenas os seguintes componentes complementares: hidróxido de sódio ou de cálcio, cloreto de sódio ou de cálcio; e carbonato de sódio ou de cálcio (RDC ANVISA Nº 110, 2016).
Apresentação: Líquida
Toxicidade
Dose Tóxica: A toxicidade está relacionada diretamente à concentração do produto, volume ingerido e via e tempo de exposição. A exposição acidental a soluções de hipoclorito de sódio inferior a 5% resulta geralmente em irritação e edema leves das membranas mucosas. No entanto, se a exposição for prolongada, repetida e ingerida em grandes quantidades, pode resultar em toxicidade moderada a grave.
Mecanismo de Toxicidade: A exposição às soluções aquosas causa lesão irritativa ou corrosiva nos olhos, na pele ou no trato GI. O gás cloro produz um efeito corrosivo em contato com tecidos úmidos, como aqueles dos olhos e do trato respiratório superior.
A exposição é comum, mas a toxicidade é baixa em soluções de uso doméstico (até 5,0%). Todos os pacientes que ingeriram intencionalmente devem ser encaminhados para avaliação médica. Crianças ou adultos que ingeriram acidentalmente pequenas quantidades de produtos domésticos e não apresentam sintomas não precisam ser encaminhados para o hospital. Os pacientes devem ser aconselhados a procurar atendimento médico caso apresentem sintomas. Crianças e adultos que tenham sido expostos a um produto de concentração desconhecida ou clandestinos, ou aqueles que estão sintomáticos, devem ser encaminhados para avaliação médica, para observação por um período de 6 horas ou até assintomáticos. |
Manifestações Clínicas
As manifestações clínicas são decorrentes da ação local do hipoclorito, potencialmente irritante, dependendo da concentração. O diagnóstico é geralmente obtido com base em história de ingestão e descrição de odor irritante típico, acompanhadas de efeitos irritantes ou corrosivos sobre os olhos, a pele ou o trato GI ou respiratório superior.
'''Dados importantes na avaliação clínica: ****concentração do produto, volume ingerido, intencionalidade, via da exposição, produto clandestino ou não.
INGESTÃO:
INTOXICAÇÃO LEVE A MODERADA: A ingestão de soluções de hipoclorito aquoso diluído (até 5%) poderá causar queimação imediata na boca e garganta, mas nenhuma lesão de maior gravidade é esperada. A maioria das intoxicações com soluções de baixa concentração e pequena quantidade é benigna, com leve irritação local. Quando a ingestão é de grandes quantidades, podem ocorrer dor abdominal, náuseas e vômitos (risco de aspiração).
INTOXICAÇÃO GRAVE: A ingestão de soluções mais concentradas e/ou em associação com outros agentes cáusticos, podem causar queimaduras esofágicas e gástricas significativas, e os pacientes podem manifestar disfagia, salivação e dor severa na garganta, tórax e dor abdominal. Podem ocorrer hematêmese e perfurações gastrointestinais. Nestes casos ver a monografia de áusticos e Corrosivos (Ácidos e Álcalis).
INALAÇÃO: Os sintomas respiratórios mais comuns são: tosse, irritação respiratória alta e dispneia. A reação de um ácido com uma solução de hipoclorito libera o gás cloro, que tem solubilidade em água relativamente alta. Isso leva a um efeito irritante nas membranas mucosas (por exemplo, olhos, nariz e garganta) e pode desencadear sibilância e outros sintomas respiratórios, particularmente naqueles com doenças preexistentes, como asma ou DPOC. Em exposições graves, que são raras com produtos domésticos, o edema das vias aéreas superiores pode causar obstrução e pneumonite química.
EXPOSIÇÃO CUTÂNEA: Irritante para a pele e pode causar dermatite alérgica.
EXPOSIÇÃO OCULAR: Dor imediata, irritação, lacrimejamento e sensação de queimação. Pode ocorrer lesão corneana transitória.
EXPOSIÇÃO INTRAVENOSA: Lesão renal aguda, hemólise intravascular e lesão miocárdica leve, desenvolvida após a autoadministração parenteral de grande quantidade de hipoclorito de sódio.
Tratamento
'''Dados importantes para auxiliar no tratamento e prognóstico: ****concentração do produto, volume ingerido, intencionalidade, via da exposição, produto clandestino ou não.
INGESTÃO:
1. Medidas de suporte: Avaliação das vias aéreas, respiração e circulação.
2. Descontaminação:
NÃO induzir vômitos.
NÃO fazer lavagem gástrica.
NÃO usar carvão ativado.
NÃO neutralizar.
3. Diluição: Administrar precocemente um diluente (água ou leite) em pequenas quantidades, conforme a aceitação do paciente, para evitar vômitos.
Na suspeita de produtos de concentração potencialmente cáustica/corrosiva, após a diluição, o paciente deve ficar em repouso gástrico (NPO) até ser avaliado a necessidade ou não de endoscopia. Nestes casos ver a monografia de áusticos e Corrosivos (Ácidos e Álcalis).
Observação: Questionar a tolerância da pessoa intoxicada ao leite. Algumas pessoas podem sentir náuseas com a ingestão de leite, sendo preferível a diluição com água.
INALAÇÃO: Retirar imediatamente o paciente da exposição e fornecer oxigênio suplementar, se necessário. Administrar broncodilatadores por inalação em caso de dificuldade respiratória. Se tosse ou dispneia, verificar saturação de oxigênio e atentar para a possibilidade de irritação do trato respiratório e pneumonite química. Pode ser solicitado um raio-X de tórax em pacientes com sintomas respiratórios, na admissão e posteriormente para avaliar possível pneumonite química.
Para exposições respiratórias ao gás cloro e gás cloramina, exposições graves podem requerer intubação, especialmente para aqueles que apresentam sinais de edema ou obstrução das vias aéreas (tosse rouca, rouquidão, estridor) ou aqueles em desconforto respiratório grave secundário ao edema pulmonar.
EXPOSIÇÃO CUTÂNEA: Retirar roupas contaminadas e LAVAR a pele exposta com água abundante por pelo menos 15 minutos ou mais, dependendo da concentração, quantidade e duração da exposição ao produto. Se presença de lesão de pele, realizar tratamento padrão de queimaduras.
EXPOSIÇÃO OCULAR: Irrigar os olhos com água abundante ou soro fisiológico por pelo menos 30 min. Considerar avaliação oftalmológica, se necessário.
Exames/Monitorização
- Não há exame específico para o diagnóstico.
- Monitorar eletrólitos séricos (particularmente sódio e cloreto) e gases sanguíneos em pacientes com grandes ingestões de hipoclorito de sódio.
- Monitorar a gasometria arterial, a oximetria de pulso e os testes de função pulmonar, e obter um raio-X de tórax em pacientes com sintomas respiratórios.
Epidemiologia
No Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina o Hipoclorito de Sódio (água sanitária) é uma das substâncias mais frequentemente envolvidas nas exposições humanas. No período de 2014 a 2017 foram registrados 820 casos de exposição, ocupando o sétimo lugar no número de exposições a todas as substâncias e representando 37% das exposições aos Produtos Domissanitários. Destes, 38% foram em crianças menores de 4 anos de forma acidental, de casos leves com boa evolução. Nas demais faixas etárias, aproximadamente 96% dos casos também foram de casos leves, com boa evolução. Casos graves ou moderados (2,4%) ocorreram apenas quando em associação com outros agentes. No período teve um óbito de paciente feminino, 82 anos, com histórico de pneumopatia crônica, que utilizou para limpeza de banheiro da residência, solução de hipoclorito, evoluindo com insuficiência respiratória, parada cardiorrespiratória e coma. Desenvolveu infecção hospitalar e evoluiu para óbito após 34 dias de internação em UTI.
Bibliografia
ANDRADE, A. et al. Toxicologia na prática clínica. 2ª edição. Belo Horizonte: Folium, 2013.
MICROMEDEX Healthcare Series – POISINDEX - Hypochlorites and related agents. Disponível em:http://www.micromedexsolutions.com Acesso em: junho 2018.
TOXBASE (NPIS). Hypochlorite. Disponível em: http://www.toxbase.org/. Acesso em: junho 2018.
OLSON, K.R. Manual de toxicologia clínica. 6ª edição. Editora Artmed. Porto Alegre, 2014.
BRASIL. RESOLUÇÃO - RDC Nº 109, DE 6 DE SETEMBRO DE 2016. Dispõe sobre regulamento técnico para produtos saneantes categorizados como alvejantes à base de hipoclorito de sódio ou hipoclorito de cálcio e dá outras providências. DOU Nº 173, quinta-feira, setembro de 2016.
BRASIL. RESOLUÇÃO-RDC Nº 110, DE 6 DE SETEMBRO DE 2016. Dispõe sobre regulamento técnico para produtos saneantes categorizados como água sanitária e dá outras providências. DOU Nº 173, quinta-feira, setembro de 2016.
Revisado por: Equipe do CIATox/SC. Última atualização: Junho 2018.
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