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Plantas com Nicotina e derivados

Descrição e Mecanismo de ação

Alcaloides semelhantes à nicotina (anabasina, citisina, coniina e lobelina) são encontrados em várias espécies vegetais .

Nicotiana é um gênero de plantas da família Solanaceae. A toxina específica depende da espécie, mas envolve alcalóides quimicamente relacionados, por exemplo, nicotina em Nicotiana tabacum, anabasina em Nicotiana glauca.

Esses agentes são agonistas de ação direta no subtipo nicotínico do receptor de acetilcolina nos gânglios dos membros parassimpáticos e simpáticos do sistema nervoso autônomo, da junção neuromuscular e do cérebro.

Toxicidade

A maioria das exposições a plantas de tabaco produz sintomas leves ou moderados.

A exposição dérmica pode causar toxicidade. O contato dérmico prolongado durante a colheita do tabaco pode causar a "doença do tabaco verde".

As exposições a outras plantas nicotínicas são raras, mas há relatos de toxicidade grave, incluindo a morte, após ingestões de Nicotiana glauca ao ser confundida com folhas de outras espécies de plantas comestíveis.

Manifestações Clínicas

INGESTÃO: Início rápido de náuseas e vômitos. Podem ocorrer ardor na boca e garganta, hipersalivação, confusão, tontura, miose, midríase, dor de cabeça, fraqueza muscular, rubor, palidez, fraqueza, ataxia, tremores, fasciculações musculares, sudorese, aumento das secreções brônquicas, taquipneia, taquicardia e hipertensão.

Nas intoxicações graves a agitação pode evoluir para convulsões, bradicardia, hipotensão, fibrilação atrial, paralisia dos músculos respiratórios e coma, seguido de parada respiratória e cardíaca.

São frequentes os casos de intoxicação coletivas em pessoa das mesma família por ingestão do couve-selvagem (N. glauca), responsável pelos casos graves e por óbitos.

CUTÂNEA: A exposição prolongada, a exposição a produtos concentrados ou a aplicação em pele ferida podem levar a uma absorção significativa. Podem ocorrer características de toxicidade sistêmica.

OCULAR: Pode ocorrer irritação e lacrimejamento.

Tratamento

  • O tratamento é sintomático e suportivo.
  • Para reduzir a absorção, considerar administrar carvão ativado (dose de carvão: 50 g para adultos; 1 g/kg para crianças) em pacientes que ingeriram uma grande quantidade, desde que as vias aéreas possam ser protegidas e a motilidade intestinal esteja normal. Mesmo a administração tardia de carvão ativado pode ser benéfica quando esta substância é ingerida em sobredosagem. Podem ser necessárias doses adicionais para aumentar a eliminação em intoxicações graves.
  • Os cuidados de suporte são a base do tratamento, com ênfase principal no suporte cardiovascular e respiratório para garantir a recuperação.
  • Exposições cutâneas: Remover toda a roupa contaminada e lavar a pele exposta copiosamente e realizar tratamento sintomático.
  • Irrigar os olhos expostos copiosamente com soro fisiológico ou água.

Doença da folha verde do tabaco (DFVT)

A doença do tabaco verde refere-se à toxicidade da nicotina causada pela absorção dérmica das folhas do tabaco (Nicotiana tabacum) em trabalhadores do campo durante a colheita. Os fatores associados à doença da folha verde do tabaco incluem:

  • Trabalhar em plantações de tabaco quando a colheita está úmida (por exemplo, orvalho da manhã, durante ou logo após uma tempestade, ou dias com alta umidade ambiente).
  • Trabalhadores não fumantes (devido à menor tolerância à nicotina quando comparados aos fumantes).
  • Idade mais jovem, crianças e adolescentes em maior risco.

Manifestações clínicas e diagnóstico: Os sintomas podem ter início rápido enquanto o trabalhador está no campo ou pode demorar várias horas. Os sintomas mais frequentes consistem em palidez, náusea, vômito, tontura e dor de cabeça. Menos comumente, podem ocorrer diaforese, salivação, secreções brônquicas abundantes, diarréia, fraqueza muscular e flutuações na frequência cardíaca e na pressão arterial. Raramente, foram descritas convulsões. A doença do tabaco verde normalmente desaparece em três dias.

O diagnóstico da doença é baseado na história de exposição às folhas de tabaco e nos achados clínicos.

Tratamento: Na maioria dos pacientes, o tratamento requer prevenção de exposição adicional e cuidados de suporte:

  • Retirar o trabalhador do campo
  • Fazer com que o trabalhador tome banho e troque de roupa
  • Incentive hidratação e descanso adequados
  • Administrar antieméticos (por exemplo, ondansetrona) e líquidos intravenosos (IV) a pacientes com vômitos persistentes, mas sem outros sinais muscarínicos (por exemplo, broncorreia, salivação ou sibilância)
  • Impedir que o trabalhador retorne à plantação de tabaco até que todos os sinais e sintomas tenham desaparecido
  • O manejo do envenenamento por nicotina mais grave causado pela doença do tabaco verde é semelhante ao do envenenamento por nicotina moderado a grave.

Exemplos de Plantas com Nicotina e derivados:

Nicotiana tabacum (tabaco, fumo). Família:Solanaceae. Substância ativa: Nicotina. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicotiana_tabacum_001.JPG.

Nicotiana tabacum (tabaco, fumo). Família:Solanaceae. Substância ativa: Nicotina. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicotiana_tabacum_001.JPG.

Nicotiana glauca (fumo-bravo, charuto-do-rei, falsa couve, couve do mato, couve selvagem). Família:Solanaceae. Substância ativa: Anabasina. Fonte: https:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicotiana_glauca_flowers.jpg

Nicotiana glauca (fumo-bravo, charuto-do-rei, falsa couve, couve do mato, couve selvagem). Família:Solanaceae. Substância ativa: Anabasina. Fonte: https:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nicotiana_glauca_flowers.jpg

Referências

  1. Andrade Filho, A.; Campolina, D.; Dias, M. B. Toxicologia na prática clínica. 2° ed. Editora Folium. 2013. 675p.

  2. Tabacum spp. In: NATIONAL POISONS INFORMATION SERVICE (NPIS). TOXBASE® © Crown copyright 1983-2023. Reino Unido, 2023. Disponível em: https://www.toxbase.org/. Acesso em: 29 Set. 2023. [acesso restrito].

  3. MATOS, A. F. A. et al. Plantas tóxicas: estudo de fitotoxicologia química de plantas brasileiras. Instituto Plantarum de Estudos da Flora,

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  5. Nelson LS, Shih RD, Balick MJ (2007) Handbook of poisonous and injurious plants, 2nd edn. Springer, Boston.

  6. North Carolina Extension Gardener Plant Toolbox. Disponível em: https://plants.ces.ncsu.edu/. Acesso em: 21 Ago. 2023.

  7. OLSON, K.R. Manual de toxicologia clínica. 6ª edição. Editora Artmed. Porto Alegre, 2014.

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  10. RIQUINHO, D. L.; HENNINGTON, E. A. Cultivo do tabaco no sul do Brasil: doença da folha verde e outros agravos à saúde. Revista Ciência e Saúde, n 19, v 12, 2014. https://doi.org/10.1590/1413-812320141912.19372013.

  11. Furer V, Hersch M, Silvetzki N, Breuer GS, Zevin S. Nicotiana glauca (tree tobacco) intoxication--two cases in one family. J Med Toxicol. 2011 Mar;7(1):47-51. doi: 10.1007/s13181-010-0102-x. PMID: 20652661; PMCID: PMC3614112. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20652661/

Elaborado por: Marisete Canello Resener

Revisado por: Adriana Mello Barotto, Taciana Mara da Silva Seemann

Registrado por: Marisete Canello Resener

Data: Setembro/2023.